sexta-feira, 14 de março de 2008

O poder da cura... e o meu avô Carlos


Aqueles dias de totalidade. A manifesta sensação de que tudo estava no seu sítio. Tudo fazia sentido. Tudo irradiava harmonia. Aqueles dias, foram dias de muita paz.

Todos os dias medito e praticamente todos os dias, transformo alguns momentos da minha vida, naquela íntima sensação de saber quem sou. A harmonia daqueles dias, volta nestes momentos. E por isso sei, que esta é a minha verdadeira essência: a criança que corre livre, pelo meio das árvores; a criança que não impõe limites, nem medos, nem condiciona, nem se deixa ser condicionada.

Por esta altura, todos aqueles que já partiram faziam também parte do meu mundo. O meu avô Carlos, a minha avó Laura, a minha tia Fortunata, o meu tio Zé Vieira e o meu avô Upa Upa.

Falo deles, porque não quero esquecê-los. Falo deles, porque me ensinaram, cada um à sua maneira, a procurar entender a vida.

O meu avô Carlos foi o primeiro a fazer a passagem. Irmão do meu tio Bernado e a personificação do típico homem da família da parte do meu pai. Um homem simples, um homem da Terra. Vivia da agricultura. Plantava, colhia e vendia. Um homem para quem tudo chegava.

As lembranças que tenho deste meu avô, são vizualizações de paz. E penso que foi com ele que solidifiquei a necessidade de solidão. Porque a solidão é boa, quando não nos sentimos sós. A solidão é boa, quando funciona como a possibilidade de estamos dentro de nós. Sem mais nada. Só estar e aproveitar.

O meu avô Carlos foi a pessoa mais desapegada que conheci. Para ele não havia tempo e espaço. Não existiam bens materiais, não existia rotina. Era dono dos seus dias. E por isso não era um homem preocupado. Não me lembro de que alguma vez tenha ficado doente, à excepção dos tempos que antecederam a sua morte. Morreu porque fumava. Ou então morreu porque terminara a sua missão na terra. E o fim de todos nós tem que vir sempre mascarado com algum ou muito sofrimento.

O pai do meu pai, fez-me perceber que os melhores remédios não tem nomes complicados, nem efeitos colaterais. O meu avô Carlos, ainda hoje me faz entender, que a vida "não é nem deve ser, como um castigo que terás que viver..." (como disse também António variações). A despreocupação, o não condicionamento, a não competição social, o sol, a água, o ar puro e energético, o exercício, o descanso, a vida equilibrada e tranquila, a confiança em nós mesmos e no ser Divino que existe em nós, são a maior e melhor cura, a que algum dia poderemos aspirar.

E por isso lhe agradeço. Ao meu avô Carlos, que à sua maneira, despertou a minha chama interior de auto-conhecimento e cura interior...

1 comentário:

  1. ...Sol Água Terra Ar... a cura da Primavera.


    "(...)The atmosphere is not a perfume, it has no taste of the distillation, it is odorless,

    It is for my mouth forever, I am in love with it,

    I will go to the bank by the wood and become undisguised and naked,

    I am mad for it to be in contact with me.

    The smoke of my own breath,

    Echoes, ripples, buzz'd whispers, love-root, silk-thread, crotch and vine,

    My respiration and inspiration, the beating of my heart, the passing of blood and air trough my lungs,



    The snif of green leaves, and of the shore and dark-color'd sea-rocks, and of hay in the barn,

    The sound of belch'd words of my voice loos'd to the eddies of the wind,

    A few light kisses, a few embraces, a reaching around of arms,

    The play of shine and shade of the trees as the supple boughs wag,

    The delight alone or in the rush of the streets, or along the fields and hill-sides,

    The feeling of health, the full-noon trill, the song of me rising from bed and meeting the sun.(...)"


    Walt Withman

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